“Você só consegue aprender com outras pessoas se conseguir integrar suas experiências com as dos outros. Para isso, é importante abstrair de suas crenças estabelecidas e de suas experiências individuais e reconhecer que o mundo que você ignora tem mais conhecimento do que sua história de vida”.
(Conrado Schlochauer)
Desde criança, somos encaixados em grupos sociais que nos apoiam e nos fazem pertencer a algo maior, são grupos nos quais vamos aprendendo sobre como viver em sociedade e enxergar o mundo. São redes sociais nas quais vamos sendo incluídos a cada nova etapa da vida.
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Podemos tirar como exemplo que a nossa primeira experiência de rede social é a família, espaço em que somos incluídos quando nascemos, nele vamos aprendendo juntamente com nossos familiares. Em seguida, somos inseridos na escola, na universidade e no ambiente de trabalho. Sempre rodeados de grupos, onde vamos aprendendo por meio da convivência e das trocas.
Com o advento das novas tecnologias, os avanços da internet e a construção de comunidades sociais virtuais, que são desenvolvidas por meio das mídias sociais, novas possibilidades de redes sociais nos são apresentadas e por meio delas, podemos construir novas estruturas de aprendizagens que já não carregam em si um planejamento prévio, estruturado e organizado para que aconteça, mas que não perdem valor pelas vantagens que apresentam.
A Aprendizagem em Rede está incluída nesses espaços de redes sociais. Trata-se de um estilo de aprendizagem que possibilita a troca e a interação entre os envolvidos, é um ambiente onde os saberes são compartilhados, experienciados e transformados em novos conhecimentos a partir das vivências apresentadas pelo grupo. Para o autor Conrado Schlochauer (2021), esse modelo de aprendizagem tem como objetivo “apoiar e criar relacionamento dentro da rede existente” (SCHLOCHAUER, 2021, p. 209). Ou seja, é um espaço em que as pessoas se apoiam na construção de novas relações, novas formas de interação e um espaço de envolvimento.
Uma das vantagens desse modelo de aprendizagem é que nela você tem acesso direto ao autor (responsável pelo compartilhamento de uma ideia), que em sua grande maioria, responde prontamente e é instigado a continuar compartilhando seus conhecimentos, gerando trocas de saberes e ampliando os aprendizados referentes ao tema abordado.
Em contrapartida, ao passo que a Aprendizagem em Rede apresenta vantagens, por ser um espaço social e de relacionamentos, pode em algum momento se confundir como um espaço apenas de conversas e diversão.
Nesse sentido, para que um espaço de rede social saia do espectro de relacionamento e encontro entre pessoas e se torne um ambiente de aprendizagem, é necessário uma postura atenta para o propósito de existência desse grupo, além de ressignificar os modelos em que ele acontece.
Para Lévy (2010), é preciso olhar para o grupo como um espaço de valorização da inteligência coletiva. Ver nele a possibilidade de valorização dos conhecimentos de cada pessoa que integra o grupo. Para isso, ao participar de uma rede de aprendizagem, seja ela por meio de uma mídia digital (redes sociais como Facebook, grupos de WhatsApp, Telegram e outros), ou por meio de uma rede presencial é importante que o participante tenha algumas atitudes:
Comente as postagens e experiências compartilhadas;
Replique, divulgue e compartilhe os assuntos;
Participe e inicie conversas.
Para Schlochauer (2021), “a participação ativa, o compartilhamento de informações e a escuta profunda são alguns comportamentos que potencializam as redes” (SCHLOCHAUER, 2021, p. 206).
A aprendizagem em rede é apoiada pela Unesco e está diretamente ligada aos 4 pilares para a Educação no século XXI, que propõe uma educação ao longo da vida, não restringindo o aprendizado apenas aos espaços formais de aprendizagem. Para Jacques Delors (2004), trata-se de um espaço não formal, mas que, semelhante aos espaços formais, esse formato de aprendizagem serve para ajudar os envolvidos a descobrir-se a si mesmos e aos outros.
Os espaços de aprendizagem em rede concentram-se no pilar: Aprender a viver juntos, do relatório proposto por Jacques Delors e sua equipe para a UNESCO. Esse pilar busca desenvolver a compreensão do outro e a percepção das interdependências, propor a realização de projetos comuns e a gestão de conflitos, respeitando o pluralismo do grupo e valorizando os saberes. (Delors, 2004).
Com a Pandemia do vírus COVID-19, que ocorreu a partir do ano de 2020, muitos grupos de aprendizagem em rede foram estabelecidos, outros foram reafirmados, como é o caso das Comunidades Multiplique e Kamikaze, organizadas pelo Mercado EAD, que acontecem no WhatsApp e geram resultados para o Linkedin.
Foram espaços estabelecidos que se tornaram ambientes de aprendizagem em rede. Os membros partilham seus aprendizados, tiram dúvidas, geram novos temas a serem abordados por todo o grupo e o único pagamento que os membros precisam fazer são: evitar postagens fora do contexto proposto para o grupo e compartilhar seus conhecimentos, seja em formas de artigos ou postagens de outros recursos educacionais. Desse modo, o grupo se mantém ativo, vivo e proporcionando novas experiências de aprendizagens.
Para Aubert et al. (2016) a aprendizagem em grupos sociais é uma das melhores formas de reduzir a desorientação, pois, ao considerar os pontos de vistas distintos que outras pessoas nos oferecem, podemos decidir com mais argumentos e mais livremente qual é a melhor opção para cada pessoa. (AUBERT et al. 2016, p. 29).
Nesse espaço é valorizada a inteligência coletiva, não há um só detentor do conhecimento, há sim vários conhecimentos que são compartilhados gerando novos aprendizados. O que está diretamente ligado às propostas levantadas por Paulo Freire no livro Pedagogia do Oprimido. Para o autor, “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2011, p. 96).
Quando escolhemos aprender em comunidade estamos nos abrindo para novos horizontes, para outra ótica de observação. É a oportunidade de integrar-se e abrir novas portas para conhecer o mundo pelo olhar de outras pessoas, de mostrar nossa forma de ver esse mesmo mundo e com isso criar novos sentidos para a existência dele. Nós somos parte de um todo interconectado e cabe-nos a demanda de construir espaços de aprendizagem em rede.
Referências
AUBERT, Adriana et al. Aprendizagem dialógica na sociedade da informação. São Carlos: EdUFSCar, 2016.
DELORS, J. et al. Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 9 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.
SCHLOCHAUER, Conrado. Lifelong learners: o poder do aprendizado contínuo: aprenda a aprender e mantenha-se relevante em um mundo repleto de mudanças. São Paulo: Editora Gente, 2021.
Graduado em Pedagogia (Uniasselvi) e em Gestão em Turismo (UniAteneu). Especialista em Administração (Estácio) e em Tecnologias Aplicadas à Sala de Aula (Descomplica). Estudante de Mestrado em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância (UFRPE). Atua como Designer de Aprendizagem, professor, autor, gestor de projetos educacionais e idealizador de comunidades colaborativas de aprendizagem.
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